Lixo
Começa sempre num sorriso rasgado. Vamos beber um café, rapidamente viram dois e peço-te que fiques mais um bocado. Os dias passam e quantas vezes te passei, convites de última hora eu neguei, uma ou duas vezes, dou eu conta e já se foram meses, até que consinto. Vou de boleia no teu colo e acredito que com tempo eu sinto.
No momento da cedência, abre-se uma porta escura, vejo que já perdes a paciência e para ti já não sou pura, única, mulher. Sou um pedaço de vazio, nada digno de acolher.
Com os ponteiros do relógio vai-se a minha vida, vivo de oxigénio saído desta ferida, que insistes em aumentar, um dia mais triste e um feliz para compensar. Pedes desculpa e já não me recordo quantas aceitei, passa mais uma e juro que à solidão me habituei. Pisas-me em voz alta e em prosa barata, choro em poesia e em vergonha não tenho nem lata para contar a alguém, para gritar que não tenho ninguém.
Há uns dias escrevi sobre um pedacinho de uma história minha que está lá bem longe, que se vai reanimando na memória de vez em quando. De uma mulher para outra, se és mal tratada naquele que devia ser o teu ninho de amor, pede a mão a quem - realmente - te quer bem. Parece que vai sempre doer, mas prometo que melhora no dia em que sais do meio do sofrer.
Janeiro 2022